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  • Erika Pallottino

O sentido do nosso trabalho clínico


Eu não sei exatamente quando a dor chega quando perdemos alguém. De repente é assim, dói. Dói forte. Dói a cada lembrança e a cada certeza de que não nos veremos mais. Dói e existe lamento a cada imagem que retorna dos bons dias vividos, das alegrias divididas, dos sufocos que não serão esquecidos.

Escutamos quase diariamente em nossa clínica o retorno a esses encontros saudosos. Junto deles, o lamento, o pesar, o pranto e a certeza de que o luto é a prova de que houve muito amor envolvido.

Acompanhar a experiência do luto das pessoas que nos procuram é sermos testemunhas de histórias bonitas e de inesquecíveis encontros.

A mãe que nos conta da chegada à despedida do filho amado. O marido que nos relata sobre o brilho no olhar ao iniciar o namoro com o amor da sua vida, sobre o cuidado aos últimos dias da esposa que lhe trouxe sentido. A irmã que sorri ao contar as travessuras que fez ao lado do irmão, o momento que passou a caminhar sozinha e sem rumo, por não tê-lo mais por perto. O pai que se despede e se reencontra com o seu lindo bebê, na mesma hora do "oi" e do "adeus".

Parece que dor faz gente secar. Sim, pessoas no auge da dor parecem secas e sem estofo interno. Minguam. Sofrem e se consomem pela despedida que parece sempre abrupta, mesmo quando esperada. A dor aguda arranca tudo.

Esquecemos, porque a dor encobre a lembrança, que a intensidade e a magnitude daquilo que hoje é dolorido foi fruto da poesia, do aconchego, do que se viveu profundamente e com sentido.

As histórias que preenchem os nossos consultórios são de dor, mas, sobretudo, de amor. Que o amor seja sempre lembrado e relembrado por todos nós. Pacientes e terapeutas.


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