"A verdadeira compreensão é uma mistura criativa de certeza e desconhecimento. O truque é saber quando você não entende.” Thomas Moore.
Essa passagem citada por T. Moore, poeta e escritor irlandês, nos acende a seguinte questão: o que é compreender o inacessível, o irreconhecível, aquilo que não tem sentido elaborativo (ainda que temporariamente) ?
Não entender é parte do mal estar que o luto oferece. Incredulidade e irrealidade são lugares onde a compreensão parece não ter acesso - e esse movimento é diferente de encontrar sentido. Podemos, portanto, buscar significado, ainda que não haja compreensão. Existe estarrecimento e incredulidade, mas buscar sentido, é suportar o insuportável.
Sentido tem mais a ver com a esfera do sentir . Parece redundante, mas não é.
Vejam, sentir é estar aberto, disponível, na busca pelo encontro e dos ecos e ressonâncias provocados pela relação que aconteceu. É sobre o laço inquebrável formado pelo vínculo. Fechamos os olhos e voltamos à cena que ativa a memória positiva e confortável da história vivida. Pode ter emoção, lágrima, mas sobretudo, encontramos gratidão. Sentir é se aproximar. É entrega. É atualização do afeto. E, no luto, sentir é um ato de coragem.
Já sentido, de forma tênue, se diferencia pela construção própria que a dinâmica do sentir provoca. Vamos encontrando a potência do legado, a marca que, feito tatuagem, foi deixada pelo encontro, é o inventário desse relicário de afetos. E, partir daí, nascem fios de esperança, voz para tornar essa pessoa viva nos espaços do aqui fora. Isso acontece quando falamos sobre ela, quando contamos uma história que ela foi protagonista, quando temos um gesto que lembre um ensinamento que essa pessoa deixou, quando construímos um diálogo interno dizendo que não estamos sozinhos nos desafios. Sentido é a expressão do sentir nesses termos.
E de uma maneira particular, peculiar, desconhecida, vamos tornando esse incompreensível do mundo do luto, da ausência e da perda, compreensível.
É pelo não entendimento que podemos começar a entender sobre a gente sem esse outro.
É pela não compreensão que podemos arriscar sentir e compreender a busca pelo sentido, que de forma criativa pode nos tornar entrelaçados com esse que não está mais aqui.
É um trabalho psíquico, e, sem dúvida, custoso.
Por ora, frente ao que não se compreende e conhece, vale suportar o mal estar, porque ele nos recursa e nos transforma.
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